Poesia - Exu




Não sou preto; branco ou vermelho; 
Tenho as cores e formas que quiser; 
Não sou diabo nem santo, sou Exu. 
Mando e desmando; 
Traço e risco;
Faço e desfaço;
Estou e não vou, 
Tiro e não dou; 
Sou Exu; 
Passo e cruzo; 
Traços misturam e arrastam o pé;
Sou reboliço e alegria; 
Rodo, tiro e boto; 
Jogo e faço fé;
Sou nuvem, vento e poeira; 
Quando quero, homem e mulher; 
Sou das praias, e da maré; 
Ocupo todos os cantos; 
Sou menino, avô, maluco até;
Posso ser João, Maria ou José; 
Sou o ponto do cruzamento; 
Durmo, acordo e ronco falando; 
Corro grito e pulo;
Faço filho assobiando; 
Sou argamassa;
De sonho carne e areia;
Sou a gente sem bandeira;
O espeto, meu bastão;
O assento? O vento.
Sou do mundo, nem do campo; 
Nem da cidade;
Não tenho idade;
Recebo e respondo pelas pontas; 
Pelos chifres da nação;
Sou Exu;
Sou agito vida, ação;
Sou os cornos da lua nova;
A barriga da rua cheia; 
Quer mais? 
Não dou; 
Não tou mais aqui!
 Jorge Amado


You can follow any responses to this post through RSS. You can leave a response, or trackback from your own site.
0 Responses

abcs